Por Tébaro Schmidt — Rio de Janeiro

Exatos quatro meses atrás, no dia 13 de novembro de 2019, Bruno Henrique sentenciou depois de um clássico quente contra o Vasco que o Flamengo estava em “outro patamar”. A frase, a princípio uma provocação ao rival, virou bordão e não sai da boca de jogadores, torcedores e imprensa. Tornou-se um atalho para resumir o momento vivido pela equipe de Jorge Jesus.

– Só deixar um recadinho: nós estamos brigando por título, eles eu não sei pelo que estão brigando. Então a gente tem que ter a cabeça no lugar, porque isso aqui é o que eles queriam: tumultuar o jogo, ficar fazendo gracinha. O Henríquez ali o tempo todo falando… Temos que ter cabeça no lugar porque estamos em outro patamar – disse o atacante do Flamengo na ocasião.

Bruno Henrique, do Flamengo, provoca o Vasco após empate no clássico: “Estamos em outro patamar”

O lema parece ter grudado mesmo só duas semanas depois, quando o Flamengo conquistou a Libertadores e o Campeonato Brasileiro com intervalo de um dia de um para o outro. Nas comemorações, Bruno Henrique não parava de repetir o tal do “outro patamar”.

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O Bruno Henrique já tinha avisado…

“Nós estamos em outro patamar”

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Jorge Jesus aderiu ao discurso pela primeira vez antes do confronto contra o Liverpool pela final do Mundial e disse que esperava um duelo entre “duas equipes que estão em outro patamar”. Gabigol tatuou o bordão em uma das pernas, e o próprio Bruno Henrique repetiu as palavras no anúncio de sua renovação com o Flamengo em janeiro.

Gabriel Barbosa

@gabigol

@Brunohenrique.. Até o Bart malandrão pensou… Estou em OTO PATAMÁ 💭 😏

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Vocês já sabem né Nação! OTO 🐾🌊
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A partir daí, não é preciso dizer como a torcida do Flamengo reagiu a isso, certo?
Torcedor do Flamengo personaliza a camisa com o bordão — Foto: Daniel Borges / GloboEsporte.com

Torcedor do Flamengo personaliza a camisa com o bordão — Foto: Daniel Borges / GloboEsporte.com

O papel da imprensa

Talvez seja correto afirmar que nunca se ouviu tanto a palavra “patamar” nas imprensa esportiva brasileira como nos últimos quatro meses. Em qualquer mesa de debate ou título de reportagem, quando a ideia é resumir a fase extraordinária do clube rubro-negro, diz-se que o Fla está em outro patamar. Pronto, fica subentendido.

– Sem dúvida, a imprensa se apropria de frases ditas por pessoas que têm uma representatividade num determinado segmento. E resume o momento naquilo ali – explica Vânia Fortuna, Doutora em Comunicação Social pela UFF e especialista em análise do discurso.

 — Foto: Tarso Moura / Infoesporte

— Foto: Tarso Moura / Infoesporte

– Então o momento auge do Flamengo passou a ser resumido pela frase do Bruno Henrique. Por que isso acontece? Por causa da representatividade dele. Não é qualquer pessoa que está falando que o Flamengo está em outro patamar. É o Bruno Henrique – completa ela, que também é professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade da Universidade Veiga de Almeida.

Um olhar para dentro, sob a ótica do GloboEsporte.com, ajuda a entender esse fenômeno. Ao longo dos quatro meses que se passaram depois da fatídica entrevista do Bruno Henrique, a palavra “patamar” apareceu no título de 47 matérias publicadas no site – essas sobre futebol ou não, sobre Flamengo ou qualquer outro clube. Nos mesmos quatro meses que antecederam a frase, ela só foi usada em 15.

  • Entre 13 de julho e 12 de novembro de 2019, a palavra “patamar” apareceu no título de 15 matérias do GloboEsporte.com.
  • Entre 13 de novembro de 2019 (dia da entrevista de Bruno Henrique) e 13 de março de 2020, foi usada em 47.

Eric Faria: “Só tomou essa proporção porque a frase virou verdade”

O repórter Eric Faria era quem segurava o microfone na beira do campo no empate entre Vasco e Flamengo, pelo Brasileirão do ano passado, no Maracanã. Ele conta que esperava uma repercussão da entrevista do atacante, mas de uma forma negativa.

– No primeiro momento, eu imaginei que a entrevista inteira, não só o bordão, ia repercutir. Não pelo lado positivo, mas para o lado negativo da arrogância, por ele ter debochado do adversário. Tanto que, nos dias seguintes, a entrevista repercutiu assim. Não foi para o lado do bom humor, nada disso. Foi como o Jorge Jesus agora contra o Fluminense. O próprio Vasco reprimiu, disse que os jogadores reclamaram da entrevista – recorda ele.

“Na minha opinião, esse negócio de ‘outro patamar’ só tomou essa proporção porque o Flamengo ganhou os campeonatos, e aí a frase dele virou verdade. Porque, se não, ficaria tachada como uma coisa que não deu certo. O ‘outro patamar’ seria o novo ‘cheirinho'”, completa ele.

De fato, de lá para cá, além dos títulos da Libertadores e do Brasileiro, o Flamengo conquistou a Supercopa do Brasil, a Recopa Sul-Americana e levantou a taça do primeiro turno do Campeonato Carioca deste ano, garantindo um lugar na final.

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