Jogadores da NBA usam máscaras enquanto estão fora da partida — Foto: Alex Menendez/Getty Images
Principais ligas esportivas iniciam 2021 sem maiores modificações nos calendários e com público reduzido. Mais de 3 mil pessoas morreram por dia na última semana no país
Por Camilo Pinheiro Machado — Nova York, EUA
Quando em 11 de março de 2020 a NBA suspendeu por tempo indeterminado todas as partidas da temporada, as demais ligas esportivas profissionais dos EUA e do mundo seguiram o exemplo e também pararam. À época, o que era uma epidemia passou a ser classificada como pandemia global. A prioridade naquele momento era preservar a saúde de atletas, público e demais profissionais envolvidos nos eventos, além de passar uma mensagem de responsabilidade ao planeta.
Aos poucos, cada organização criou seus próprios protocolos de segurança. A maior liga de basquete do mundo criou a já histórica “Bolha da NBA”, na Flórida. O UFC desenvolveu uma enorme estrutura, a “Ilha da Luta”, no Oriente Médio, e as demais modalidades ajustaram calendários, protocolos de testes da Covid-19 e logística de viagens para seguir em frente.
O esporte voltou, mas a pandemia em nenhum momento foi controlada nos EUA. O país já ultrapassa 420 mil mortes por decorrência do vírus e conta com a tenebrosa média de 3.076 mortes por dia na última semana. A despeito do crescimento de casos e mortes no país, NBA e NFL seguem com atividades normais, e a MLB (Major League Baseball) planeja uma temporada regular completa, com 162 partidas para cada equipe neste ano.
NBA
De olho numa das datas mais lucrativas do ano para a NBA, o Natal, a liga abriu a temporada 2020/2021 em 22 de dezembro. O país passava pela chamada segunda onda da Covid-19, e investiu energia na criação de um protocolo rigoroso para atletas e integrantes das comissões de cada equipe. Sem a bolha sanitária, que mantinha os jogadores num ambiente controlado, a NBA proibiu a presença de atletas em bares, restaurantes e festas, e endureceu medidas de segurança: não é apenas por testar positivo para a Covid-19 que o jogador entra em quarentena. Se qualquer um deles tiver contato com alguém infectado pelo vírus, é afastado e cumpre quarentena até voltar às atividades normais.
Ainda assim, um mês depois da abertura da temporada, a NBA passa por questionamentos internos e externos. Sem uma bolha de proteção para os jogadores das 30 equipes, como controlar o vírus?
George Hill, jogador do Oklahoma City Thunder, questionou exigências de se manter sempre isolado — Foto: Katelyn Mulcahy/Getty Images
– Sou um homem adulto, então vou fazer o que eu quiser. Se quiser ver a minha família, irei ver minha família. Eles não podem me dizer que tenho que ficar no quarto 24 horas por dia, 7 dias por semana. Se o problema é tão sério, então talvez não devêssemos jogar. É a vida. Ninguém vai conseguir cancelar a vida inteira por causa deste jogo. É assim que penso sobre isso – disse o armador do Oklahoma City Thunder, George Hill.
NFL
O futebol americano também segue em frente. Mesmo com a situação alarmante desde o ano passado, a liga esportiva mais rica do planeta não mudou nada em seu calendário de jogos da temporada 2020/2021. Recursos tecnológicos e logísticos foram desenvolvidos para que os numerosos elencos das 32 equipes da NFL pudessem disputar a temporada com segurança. Ainda assim, surtos de Covid-19 não foram evitados e partidas foram adiadas, modificando o andamento normal do calendário.
Torcida presente no jogo entre Tampa Bay e Green Bay no fim de semana — Foto: Dylan Buell/Getty Images
Enquanto Tampa Buccaners e Kansas City Chiefs ainda comemoram classificação para a grande final da NFL, o SuperBowl, o desafio da organização procura o tom ideal do que historicamente representa a grande celebração do esporte e do mercado publicitário americano. O clima de festa deve ser evitado em um momento de dor e quando mais de 3 mil mortes diárias assolam o país por conta da pandemia. O clima de incertezas se transfere para o momento da compra do ingresso.
O site oficial de troca de ingressos da NFL inclui orientações sobre o que acontecerá se a liga tiver que mudar sua política de participação no Super Bowl. Ao tentar comprar um bilhete, o torcedor se depara com a seguinte mensagem.
A considerar o número alarmante de mortes nos EUA, fatores externos às equipes não parecem relevantes na decisão de possível adiamento para o Super Bowl. Apenas um surto da Covid-19 entre os jogadores relacionados para a final da NFL pode impedir a realização do evento mais importante do esporte americano.
Tom Brady estará no Super Bowl após ser campeão da NFC com o Tampa Bay Buccanneers — Foto: Dylan Buell/Getty Images
MLB
Apesar da intensificação da pandemia no país, a Major League Baseball parece considerar o ano que se iniciou diferente do já histórico 2020, quando o calendário foi reduzido a apenas 60 partidas disputadas por equipe na temporada regular. Normalmente são 162 jogos por ano, o que está previsto para ocorrer neste 2021, a partir de 1° de abril. E não é mentira.
MLB estuda receber público vacinado ou com resultado negativo de exame da Covid-19 — Foto: Alex Trautwig/MLB Photos via Getty Images
A principal liga americana de beisebol planeja fazer uma pré-temporada mais curta, em março, repetindo o modelo de preparação que ocorreu no passado. E de olho nas demais modalidades que já contam com público de forma reduzida, a MLB estuda abrir as partidas para fãs que apresentem comprovação de vacinação ou teste negativo da Covid-19. A empresa que administra o sistema de venda de ingressos já se prepara para organizar os procedimentos de compra que considerem tais medidas de segurança.
O esporte americano, em 2021, busca ajustes, tenta inovações para combater os desafios do vírus, mas não esconde que a última opção é paralisar novamente as atividades. No fatídico dia 11 de março de 2020, quando a NBA foi a primeira grande liga a parar no mundo, seis pessoas morreram de Covid-19 nos EUA. Nesta última semana, quase 4 mil vidas ficaram para trás a cada 24 horas. Enquanto isso, a cestas, homeruns e touchdowns são celebrados ao redor do país.