São Paulo

Gabriel Brazão, Santos, Samir, Marcelo Grohe, Vítor Hugo, Oscar, Talisca, Mariano, Danilo Fernandes, Alex Muralha, Marcinho, Henrique, Daniel Fuzato, Malcom, Rafael Carioca, William José, Diego Tardelli, Ismailly, Marcos Rocha, Wendell, Hugo Souza, Rafinha, Ivan e Phelippe. O que têm em comum esses jogadores? Todos foram convocados por Tite para a Seleção Brasileira, mas jamais entraram em campo. Outros atletas estiveram em convocações e entraram em campo uma ou outra vez e depois disso sumiram do radar de Tite. Gente como Andreas Pereira, Wesley, Felipe, Lucas Lima, Felipe Anderson, Douglas Luiz, Dudu.

Durante as férias vi um ótimo debate entre Paulo Nunes e Paulo Vinícius Coelho no “Seleção SporTV”. Paulo Nunes argumentava que Tite dava pouca chance a jogadores que atuam no Brasil e criticava o que ele chamava de Família Bachi (o nome de Tite é Adenor Leonardo Bachi).

Paulo Vinícius contra-argumentou dizendo que Tite renovara em 51% as convocações, mas praticamente não mexia no time titular. Peguei carona no papo e estou tentando entender algo complicado: cabeça de treinador de futebol. Em especial quando chega à Seleção Brasileira.

Tite é competente e merece estar em sua posição atual. Tem números que bancam sua permanência, embora seu desempenho na fase final da Copa do Mundo de 2018 tenha sido fraco em todos os sentidos: convocação, gestão de grupo e atuação em jogos. O treinador fala sempre em coerência.

Pois aí volto ao parágrafo inicial para deixar uma pergunta: por que convocar um jogador e não o testar? Acrescento: por que convocar, não testar e nunca mais convocar? Ou por que convocar uma vez, escalar uma vez e nunca mais?

Essa atitude não é exclusividade de Tite. Todo treinador na Seleção parece acreditar em algo que só ele e seu olho clínico ou seu estafe identificaram. Tipo Afonso com Dunga e Bernard com Felipão. Ou o próprio Tite com Fred e Taison. Do alto da minha falta de experiência em chupar laranja em vestiário, não vejo utilidade em se convocar jogador para não testar decentemente. Há o argumento bastante acadêmico de que é necessário estudar comportamento em grupo, relacionamento, postura na concentração etc.

Não gosto de citar nomes porque pode parecer campanha e esse não é meu papel. Prefiro me ater a situações, e algumas estão escancaradas. Para mim, Tite age na seleção com o mesmo comportamento de treinador de clube. Pensa em ambiente, comportamento em grupo, coisas que podem ser fundamentais e determinantes em trabalho longos, de convivência diária e prolongada.

Bruno Henrique, Samir e Neymar no treino da seleção brasileira — Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Bruno Henrique, Samir e Neymar no treino da seleção brasileira — Foto: Lucas Figueiredo/CBF

A Seleção é esporádica. Quando fica muito tempo reunida isso dura um mês, 40 dias. Para o jogador, a Copa do Mundo é, acima de tudo, momento, é a bola que está jogando naquele mês, naqueles dias mágicos e únicos da Copa. Claro que este momento deve ser analisado após uma série de oportunidades e testes. Mas como saber se alguém efetivamente serve, se não é – ou é pouco – testado?

Vejo Tite preso a uma convicção: a de que o grupo que montou para as Eliminatórias de 2018 e o levou à Copa do Mundo é seu núcleo de confiança. Por isso ele até mexe nas convocações, mas blinda seus homens de confiança. Embora deste núcleo tenham sumido alguns nomes como, por exemplo, Marcelo, do Real Madri.

Seria oportunista se eu cravasse que a gratidão faz parte dos critérios de convocação de Tite, porque não tenho essa informação. Mas os dados fazem pensar nisso ou na aposta em algo que deu certo uma vez, mesmo tendo dado errado na Rússia.

Fatos costumam desmentir posturas e referendar a tese popular de que cada caso é um caso. Também derrubam manifestações de oportunidade, como aquelas em que a experiência no futebol europeu justifica a presença de um nome na lista.

Certos argumentos que valem para Firmino e Coutinho parecem não valem, por exemplo, para Lucas Moura. Gabriel Jesus entrou sem vestibular do Palmeiras para a titularidade na Seleção e foi fundamental para a classificação para a Rússia.

Quando Phillippe Coutinho, o líder de convocações na Era Tite, teve a chance de assumir o papel de protagonista da Copa América de 2019, quem brilhou de fato? Everton Cebolinha, que ainda joga no Grêmio. Esses fatos não balizariam um teste de titularidade para Gabigol, Bruno Henrique (ora contundido), Gerson e Martinelli, por exemplo?

Como o próprio treinador diz – e já fez – o campo fala. Em alguns casos, está gritando para ser ouvido. Sem sotaque, sem preferências e sem teimosia.

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