Incêndio no Ninho do Urubu — Foto: reprodução/video

Por Gabriela Moreira e Raphael Zarko

A Comissão Parlamentar de Inquérito criada para apurar incêndios que aconteceram no Rio de Janeiro nos últimos anos, entre eles o que matou dez jovens jogadores da base do Flamengo no Ninho do Urubu, concluiu seu relatório nesta segunda-feira. Nove pessoas foram indiciadas pela CPI. O ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello não foi apontado como um dos responsáveis e ficou de fora da lista. Além dele, o monitor Marcus Vinícius Medeiros não foi indiciado.

Os nove foram indiciados por homicídio culposo. Em janeiro, denúncia do Ministério Público denunciou onze pessoas por incêndio culposo – nela constavam Bandeira e o monitor do Ninho.

O relatório ainda precisa ser submetido a votação pelo plenário da Alerj. A expectativa é que isso ocorra na próxima semana. Se aprovado, por maioria simples (metade mais um), será encaminhado para o Ministério Público que pode fazer nova denúncia ou anexar à denúncia já existente.

Veja quem são os indiciados pela CPI:

  • Márcio Garotti – ex-diretor financeiro do Flamengo
  • Carlos Noval – ex-diretor da base do Flamengo, atual gerente de transição do clube
  • Marcelo Sá – engenheiro do Flamengo
  • Luiz Felipe Pondé – engenheiro do Flamengo
  • Claudia Pereira Rodrigues – NHJ (empresa que forneceu os contêineres)
  • Weslley Gimenes – NHJ
  • Danilo da Silva Duarte – NHJ
  • Fabio Hilário da Silva – NHJ
  • Edson Colman da Silva – técnico em refrigeração

O que diz o relatório sobre o ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello:

“Quanto ao ex-presidente Bandeira de Mello, importante se faz destacar alguns pontos. À época dos fatos este não era mais Presidente do Clube, não havendo indícios de que qualquer ato seu tenha contribuído para o trágico evento. Inclusive, não se pode perder de vista que o Clube de Regatas do Flamengo é uma empresa gigante, que possui em sua organização diversos cargos, sendo que cada qual desempenha um papel decisivo; pois se assim não o fosse, seria impossível gerir tal empresa”

O que diz o relatório sobre o monitor Marcus Vinícius:

“Quanto aos monitores que tinham funções de controle, educacionais e de guarda dos atletas de base, dos depoimentos prestados, conclui-se que era obrigação dos monitores ficar dentro dos contêineres na área de convivência, acordado, em vigilância, só sendo autorizada a saída, para ir na casa em frente, onde ficavam também alguns atletas.

Infelizmente o monitor responsável daquele dia, Marcus Vinicius Medeiros, não estava presente na hora do incêndio, ficando comprovado que só chegou depois que o segurança já tentava controlar o incêndio. No entanto, não se pode imputar qualquer responsabilidade ao mesmo, visto que estar no local no momento exato do incêndio não foi determinante para o evento trágico. De toda sorte, o monitor em comento colocou sua vida em risco para salvar alguns jovens.”

Em seu voto, o deputado Rodrigo Amorim, que é relator da CPI, apontou como principais causas do incêndio:

– estrutura dos contêineres incompatível com a destinação (dormitórios);

– diversas irregularidades estruturais e elétricas; ausência da devida manutenção no aparelho de ar-condicionado;

– material de preenchimento interno dos painéis dos contêineres que facilitou a propagação do incêndio;

– ausência de saída de emergência e utilização de portas de correr nos módulos sujeitas a travamento com o incêndio;

– ausência de regularidade na autorização de funcionamento, local interditado e sem certificado de aprovação do Corpo de Bombeiros

Negociação com as famílias

No relatório, os deputados concluíram que a atual gestão, que assumira pouco mais de um mês antes do incêndio, agiu com “falta de humanidade” na negociação com as famílias. E que o problema não foi tratado como prioridade do clube.

“Por fim, não se pode olvidar que a atual do gestão não se preocupou em averiguar o atual estado do CT, visto que quando se “chega numa nova casa” verifica-se se a mesma está dentro dos padrões de segurança, conforme legislação vigente. O Sr. Luiz Rodolfo Landim nitidamente se autopromoveu com a inauguração do novo CT, em um nítido “jogo de marketing”.

Salienta-se ainda a ausência de manifestação positiva para negociar com as famílias que perderam seus entes queridos, o que revela uma certa falta de humanidade. Com a crise advinda com o trágico acidente, o atual Presidente do Flamengo, conforme relatado pelo Sr. Rodrigo Dunshee, assim afirmou:

“O SR. RODRIGO DUNSHEE – Quando aconteceu essa tragédia, o Landim chamou todo mundo. Ele tem experiência nessa questão de gestão de crise, porque já passou por uma crise na Petrobras. E aí ele disse: “olha, prioridade – prioridade – do que a gente tem que ter”, aí colocou um Grupo de Trabalho, “a prioridade são as famílias”.”

Rodrigo Dunshee, mencionado no trecho acima é vice-geral e vice-jurídico do Flamengo.

Participaram da CPI os deputados: Alexandre Knoploch (presidente), Rodrigo Amorim (relator), Márcio Canella, Alexandre Freitas, subtenente Bernardo, Danniel Librelon e Tia Ju.

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