Por Carlos Eduardo Mansur

Jornalista. No futebol, beleza é fundamental

Taça da Copa do Brasil — Foto: Eduardo Moura

Rio de Janeiro

Na noite desta terça-feira, o Bahia vai a Campina Grande estrear na Copa do Brasil. Apenas por entrar em campo, receberá R$ 1,15 milhão. Já o Campinense, rival do Tricolor, receberá pouco menos da metade: R$ 560 mil. Se avançar para a segunda fase, o Bahia ganhará mais R$ 1,35 milhão; o time paraibano, R$ 675 mil.

A Copa do Brasil é sempre saudada como o “mais democrático torneio do país”. A definição, hoje, é uma meia verdade. O que vai muito além da disparidade nas premiações, criada pela CBF com base no ranking nacional. Ao mesmo tempo em que permite a clubes da base da pirâmide do país o acesso a um dinheiro inatingível por outros caminhos, cada vez menos é um território fértil para as grandes surpresas. Neste sentido, reflete uma tendência mundial.

No que diz respeito apenas à remuneração variável por desempenho, a Copa do Brasil foi transformada, de forma até desproporcional, na competição de cotas mais gorda do calendário – considerando todos os direitos envolvidos, o Brasileirão ainda é o torneio “mais rico” da elite. E talvez por haver muita coisa em jogo, vive-se no meio do caminho entre cultivar o caráter imponderável dos jogos eliminatórios e a tentação de fazer da disputa um ambiente mais controlado. Há uma aparente hesitação em assumir que a Copa é lugar do indomável, da sobrevivência às circunstâncias.

A começar pela injustificável vantagem do empate que é dada, na fase inaugural, ao time de melhor ranking. Como se esta fosse compensada pela concessão do mando de campo ao supostamente mais frágil. Ou ainda por abolir o jogo único a partir da primeira fase, mesmo num calendário já massacrante. Em tese, a disputa em 180 minutos amplia as opções dos favoritos.

Até o ano passado, os representantes brasileiros na Libertadores ainda ganhavam o direito de entrar já nas oitavas de final da Copa do Brasil, um atalho considerável. Ao antecipar em uma fase o ingresso dos mais fortes em 2021, o torneio ameniza uma distorção, mas o Brasil é tão torto que, imediatamente, cria outra: justamente os clubes mais massacrados pelo calendário veem a já insana temporada engordar mais duas partidas.

Mas o principal efeito de prêmios tão altos foi a cobiça dos gigantes nacionais. Mundo afora, a concentração de riqueza e a desigualdade econômica vêm tirando até das copas o hábito de produzir grandes surpresas. No Brasil, às cotas milionárias se soma a vaga direta na principal competição continental, fato raro no mundo.

Aos poucos, a Copa do Brasil deixou de ser prêmio de consolação e virou alvo das grandes forças do país. E num futebol com uma elite cada vez mais demarcada, o que se vê é uma drástica redução de incertezas. Desde 2013, quando os participantes da Libertadores voltaram a entrar na disputa, 59 das 64 vagas disponíveis nas quartas de final ficaram com times de Série A.

Nos últimos quatro anos, os clubes que jogaram a Libertadores ocuparam 14 das 16 vagas de semifinais da Copa do Brasil. O torneio mais inclusivo do país é, cada vez mais, disputa de gente grande.

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